Eu, ele e o motorista

De volta pra casa. Rodoviária Novo Rio. Vai começar o calvário para pegar a passagem comprada pela Internet. Sobe a escada rolante, depois dela são os degraus de sempre. Tem que dar uma volta danada para achar a rampa por onde subir a mala. Tanta obra, tanto tempo, e é o mesmo comércio disfarçado de moderno. E os pisos, frios.
A fila dos idosos serpenteia. Os velhos agora querem passear. Pego a passagem para Rio das Ostras no guichê de passagens para São Paulo, atropelada por duas gringas que não falam português e furam a fila na maior. Bem, além disso são jovens e bonitas. (Gostosas?)
Desço. Plataforma 18.Vou para o bico da plataforma para poder fumar.
Aí ele chega esbaforido. Vai para o mesmo lugar que eu. Somos eu, ele e o motorista, na porta do ônibus, no escravos de jó de destacar as passagens.
-Vocês viram o que aconteceu agora?... (ele)
-O cara que se matou ali?... (motorista)
Eu: -Que cara?...
-Pô, não tá vendo aquele ajuntamento ali, ali mesmo ó - e aponta.
-Mas o que foi, como foi, quem foi?... (eu)
-O cara foi no caixa eletrônico, não tinha dinheiro, ele puxou uma gilete e cortou na hora o pescoço. Dona, o sangue esguichou dois metros, a pilastra ali ficou pintada de vermelho.
-Mas quem era o cara?...
-Era um escurinho, mas bem vestido, bem arrumadinho. Novo ainda.
-Morreu?...
-Dona!!! Claro que morreu! Na hora. Ele sabia o que estava fazendo. Cortou bem na carótida!
(Penso em conduzir de volta o sangue, da pilastra à carótida.)
O homem conclui:
-Pô! Ele tinha que fazer isso na minha frente?...
Zelma

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