Carta ao Leo

Rio de Janeiro, fevereiro de 2010

Meu caro amigo Leo,

Uso a palavra amigo reconhecendo a intimidade entre nós. Intimidade inevitável, criada pelas incontáveis músicas minhas que imagino possuir e shows que talvez compareceu. Sei que não estou sendo presunçoso ao dizer isso, pois já li que é meu "fã" – termo que nem gosto, por não distinguir o admirador do fanático, mas foi você mesmo quem o empregou certa vez, não lembro onde. Se for mais fanático do que fã, espero que continue sem se manifestar como tal, ao menos diante de mim, poupando assim o meu constrangimento e a sua biografia. A esta altura deve estar se perguntando se sou eu mesmo que te escrevo e a resposta é: sim. Escrevo para pedir-lhe letras de músicas. Bom, imagino você agora descartando a possibilidade de eu ser eu, pela natureza do pedido, o que vem a ser bastante compreensível. Mas eu sou o dono da voz, de fato, e esta é a verdade, preciso de um letrista. Trocando em miúdos, a questão é que letras de músicas já não me atraem mais. Primeiro, escrever livros consome todo o meu tempo e interesse. Segundo, convivendo com meu genro Carlinhos, deduzi que letra de música, afinal, não é coisa pra se dar importância. Não sonho mais. Acontece é que, ao contrário do que muitos acreditam, não posso abdicar do dinheiro que a música traz. Não sou jogador de futebol com contrato vitalício, embora até mereça, pela minha invencibilidade nos gramados. Se nunca dei um mundial ao Brasil, foi por não ter tido oportunidade. Zico teve. Enfim, voltemos ao assunto. Tenho músicas prontas, material suficiente para dois ou três CDs. Já propus a algumas gravadoras trabalhos instrumentais, mas isto está fora de cogitação. Portanto, eis o negócio da China: você seria uma espécie de ghost composer. Deixo contigo as canções e você faz as letras anonimamente. Eu assino. Você pode achar que eu deveria era chamar meus incontáveis parceiros da MPB, como se fosse lógico. Mas não é. Nenhum toparia. Para fazer tal coisa é preciso um distanciamento que nenhuma amizade permite. Não, não foi contraditório eu usar a palavra amigo lá em cima. Considero você um amigo, porém, não muito próximo. E então, aceita? É um favor que me faz. Mas será um favor remunerado, prometo. Porque sem um trocado ninguém segura esse rojão.

Saudações tricolores,

Francisco

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