Segunda à noite tomei meu rumo, são apenas dois quarteirões até o curso. O que era para durar cinco breves minutos se tornou uma eternidade de quinze. Encontrei uma amiga de adolescência, moradora do bairro, com quem volta e meia cruzo. Tem vezes em que ela só acena de longe, outras, para e cumprimenta, e tem vezes que mudo o meu trajeto de propósito.
Não é que não goste dela, mas o que me incomoda é que viro uma mera ouvinte nesses encontros. Todas as minhas frases servem como gancho para ela despejar seus casos e seus problemas. E quando começa não consigo me desvencilhar mais. Tento de todas as maneiras terminar a frase com algo do tipo:“pois é, não tem jeito, são todos iguais”. Isso para mim é fim de papo, o que mais ela pode falar diante dessa conclusão. Não tem link que possa ser feito a partir daí. Vai falar o quê ?
Estávamos ali, na calçada. Ela, entretida em seu monólogo interminável, não percebeu quando uma barata, daquelas cascudas e com antenas enormes, começou a subir por sua perna. Eu ia avisá-la, mas o inseto foi mais rápido e antes que eu pudesse falar já havia se metido saia adentro. Nesse instante, ela começou a se mexer e pular, tentando se livrar da barata que lhe fazia cócegas. Todos na rua olhavam, eu rindo por dentro, só conseguia pensar na aula que já devia ter começado.
Não sei quanto tempo durou aquela cena ridícula, não devem ter sido mais de trinta segundos. Assim que se livrou da barata, que saiu completamente tonta daquela saia, depois daquilo tudo, começou a puxar um outro assunto que duraria mais alguns longos minutos: “Lembra do Pedro? Nem te conto…” Uma máquina! Inacreditável!
Finalmente tomei fôlego e consegui interrompê-la. Disse que estava atrasada e precisava ir para o curso. Nos despedimos e rapidamente segui em frente. Só sei que, esse caminho não tomo mais.
Ana Luiza
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