O cheiro da maresia ainda habita meus sonhos. A camada fina de sal que se acumula sobre a pele curtida de sol ao final do dia. O barulho das ondas batendo na pedra, e voltando. Batendo, e voltando. A alegria que o rodeia.
Acordo com o estrondo. Não é o primeiro da noite, mas o som vem de longe. O cansaço é mais forte. Falta pouco para voltar, se eu conseguir resistir. Para não pensar, me transporto com o pensamento. E me pergunto por que ele, fonte tão rica de inspiração para mim e muitos outros, tenha sido tão pouco explorado pelos impressionistas, com sua cor que está sempre mudando pela luminosidade, por horas verde outras azul, acinzentado e até vermelho; às vezes brilhante como o diamante, ou opaco como lama seca.
Depois de tudo que vi e vivi, retornei como herói, mas não era como eu me sentia por ter permitido que tantos homens bons tenham ficado no campo de batalha. Como herói eu conseguiria trazê-los de volta comigo, para suas famílias, suas casas. Mas não consegui. E apesar de tudo isso, da dor dos últimos dias no hospital, da urgência em salvar e sobreviver, da saudade, da fome e do cansaço, até hoje quando me perguntam o que foi mais difícil para mim nos tempos da guerra, respondo sem relutar: "Quase morri sem ver o mar".
Fernanda
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