...ainda o inquisidor

No limiar do real e o imaginário certas questões desafiam o entendimento e a ideia de um inquisidor, juiz implacável coabitando em nosso ser, divide opiniões.

Por um lado, os descrentes pragmáticos afirmam ser fantasia delirante ou simples metáfora da sensação de culpa, enquanto idealistas sonhadores articulam outro juízo. A realidade é uma ilusão – dizem eles e, portanto a fantasia é o real... Real no espaço intermediário entre o mito e a ciência, num universo paralelo existente em todos nós.

Neste embate sem consenso me deparo com um imprevisto, que seria estranho se não fosse um fato e apenas fato se não fosse estranho. O inquisidor, com ornatos de mistério, me apareceu em sonho apresentando um processo acusador. Não dispunha de sutileza alguma e expondo improbidades minhas indicava que tudo fora registrado. Tudinho... sem tirar nem por.

O inesperado foi assustador e depois do pesadelo olho em volta e descubro o estranho no banal. O guarda chuva abre em ambiguidades as janelas da mente. Janelas em quadrados despertam atitude de ‘Eureca’ como a Carmem ressaltou. “Ai meu Deus... – penso alto – e o que vem a ser o real”?

As palavras ecoam no vazio e duvido de minha própria existência. Percebo assim que vida e morte são duas faces da mesma moeda separadas pela ilusão do tempo e me belisco para comprovar se ainda existo. Aflito, indago novamente: “E afinal... e o que é o não-real”?

O silêncio subsequente é a cruel resposta. Vivendo em hipóteses aguardo o dia em que a ciência nos livrará de dúvidas... o dia em que a certeza, sintetizada em gotas ou em drágeas, será vendida como um remédio na farmácia da esquina.

Então, envolto em redundâncias, sou impelido a ver o óbvio sem o adorno da ilusão: a doce e meiga Claudia e o monstro Adamastor, apesar das diferenças, constituem um lindo par.

Richard

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