Amores em palitos de picolé

Com dose cavalar de saudosismo, relembro: há algum tempo atrás vales-prêmios podiam ser encontrados em palitos de picolé. Os prêmios eram, como os picolés, para todos os gostos: desde um repeteco do gelado (eu odiava essa oferta, pois só valia escolher os sabores de fruta) até carros ou bicicletas. Também sou do tempo que esses prêmios também poderiam ser encontrados dentro das embalagens de chicletes. Recordo que era doido para ganhar um videogame e uma vez abri todos os chicletes Ploc de uma caixa para ver se encontrava em algum o passaporte para meu sonho de consumo. Comecei sonhando com chicletes, meu caminho mais fácil até o brinquedo desejado; terminei não podendo nem mais sentir o cheiro de tutti-frutti por alguns anos – e, obviamente, sem o brinde esperado.

Porém, para falarmos de relacionamentos amorosos, voltemos à imagem do picolé, que nos será, de repente, bem mais útil do que o de chicletes.

Nos nossos relacionamentos, estamos sempre a buscar o palito premiado.

Estará ele no picolé de limão, ou estará no do Chicabon? Não temos como saber de antemão, por isso temos que chupá-los, um a um, na busca do nosso prêmio. Aqui nasce o primeiro problema - ou solução, dependendo do ponto de vista: se não se investir até o fim, ninguém consegue achar o palito premiado. Sim, tem que ir no fundo, chupar o picolé até que somente reste sua sustentação, aquele pequeno pedaço de madeira, que nos dirá se esse picolé é ou não aquele sonhado. Se ficar lambendo vários picolés, superficialmente, não haverá chances de se descobrir qual é premiado. Os Los Hermanos diriam para não se preocupar, ter fé e ver coragem no amor.

Mas quantas vezes, em um grupo de amigos, abrimos um picolé e, ao vermos o picolé escolhido por outro, achamos que fizemos a escolha errada? É, o picolé do vizinho, como o seu jardim, é sempre mais florido. Ao olharmos o picolé do vizinho esquecemos o nosso, o depreciamos em nossas mentes, e a experiência desmorona. Não conseguiremos chegar até o seu fim.

Outra coisa sobre picolés: também não adianta chupar freneticamente para chegar ao fim logo e passar para outro, até ver qual é o premiado. Corre-se o risco de enjoar de picolés, ou achá-los todos iguais, ou até mesmo perder a fé que no palito de algum vai estar marcado o prêmio.
    
Bem, é verdade que talvez nunca achemos o prêmio, mas se degustarmos, curtirmos o picolé, ao invés de o engolirmos ferozmente, já teremos de pronto uma boa recompensa – o deleite da iguaria, que é gostosa por si só. O nosso grande equívoco pode estar aí: não bastar para nós aquilo que o próprio picolé nos oferece pela sua própria natureza, sem nos prometer mais, ou seja, o seu doce, o seu frescor, a sua sensação.
    
Picolés, sejam eles de quais sabores forem, sempre encontrarão bocas que possam curti-los. Resta somente ao apreciador deixar as papilas gustativas fazerem seu papel e, no mínimo, o seu prêmio será uma ótima experiência sensorial. E vai que, de quebra, o palito traz o grande prêmio, hein?

Rodrigo 

2 comentários:

  1. Sensacional, garoto! Muito, muito bom!

    ResponderExcluir
  2. Rodrigo,, veja como a vida è... se náo chuparmos o picolè...ele derrete e a graça esta... ahi... porque na maioria das vezes, o premio è outro picole..beijossssssssss Luciene

    ResponderExcluir