Estou sendo seguida. Não sei exatamente desde quando, mas tenho certeza que você está me seguindo. Sua estratégia de escolher lugares públicos não deu certo e chegou a hora de desmascará-lo.
Comecei a desconfiar de tudo pouco mais de um mês atrás. Cheguei cedo ao lançamento de “Flores” do Mario, na Travessa do Leblon. Não havia quase ninguém no mezanino. Estava tomando uma taça de vinho e fazendo anotações quando você passou por mim e sentou-se bem à minha frente. Confesso que tive medo, mas agi naturalmente.
Tudo parecia uma grande coincidência até você aparecer ao meu lado novamente, desta vez no lançamento de “Clarisse”, na Travessa de Ipanema. Foi a partir daí que comecei a ter certeza que estava me seguindo. Cheguei a acreditar que éramos apenas dois admiradores dos mesmos livros, das mesmas livrarias. Afinal Leblon e Ipanema são bairros relativamente próximos, não são?
Mas o que dizer do Baixo Gávea? Almoçar no mesmo lugar que eu, no mesmo dia que eu, no mesmo “Garota” que eu, não me deixou mais dúvidas. Se fosse apenas um almoço despretensioso você poderia ir ao “Garota da Urca” ou de Ipanema. Mas você escolheu o “Garota da Gávea”. Tantas garotas por aí... Por que eu?
Aquele era o meu bairro, a minha rua, a minha casa! E o que dizer daqueles textos cifrados em forma de crônica, colocados todas terças debaixo da minha porta? Você quer me enlouquecer? E as mensagens que invadem o meu computador com menos de cento e quarenta caracteres quase todos os dias pela internet? Por favor, pare de me seguir! Nem mesmo num canal de notícias consigo me livrar de você!
Decidi pôr um fim nesta perseguição. Dentro do ônibus, a caminho daqui estava decidida a colocar tudo em pratos limpos. Foi quando olhei da janela do ônibus e vi você, vestindo camisa listrada, atravessando a rua em frente a Praça Santos Dumont. Você mora na Gávea!
Foi assim que eu me dei conta que quem tava te seguindo era eu.
Leticia Torgo
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