Não presta e não se empresta

Ando abismada. Ultimamente, você tem você se excedido. Resolvi escrever.

Querido, até onde você acha que pode chegar o meu amor?  O meu; que julgo o maior do mundo. Esse amor que nunca pediu nada em troca. Só seu sorriso. Só a alegria de você existir em minha vida.  Amor que tudo perdoou, que escondeu seus defeitos, que justificou seus erros, que fez inimigos para defender você. O que eu deixei de fazer por você? Fiz tudo. Errei por não colocar limites. Dei tudo de mim. Tudo. Perdi noites de sono, a beleza e finalmente todo o meu dinheiro. 

A princípio, julguei que você pedisse emprestados os meus bens e que fosse devolver um dia. Talvez algum respeito ou carinho por mim. Fui cúmplice de sua irresponsabilidade frente à vida. Achava graça de sua futilidade, de seus caprichos. Um dia ele cresce, pensava... Emprestei para você o que eu tinha e não tinha, ou melhor, dei tudo. Porque empréstimo se devolve. E você nada devolveu. Sugou meu salário, minha pensão de viúva, minhas jóias  e até a herança de minha família. Tudo.

Você vivia cheio de projetos malucos e delirantes. Eu não sabia contrariar sua juventude e seus desejos.  E lá foram minhas economias para as suas mãos.  Não havia dinheiro que chegasse.  Era só um empréstimo que você logo me pagaria...  Mas suas mãos voltavam vazias e com mais fome.  Quantas vezes você excedeu o cartão de crédito! Quantas vezes, você deixou de pagar seu aluguel ou se meteu em negócios estranhos! Mas eu abria novamente meu coração, meu amor e minha carteira e logo seu sorriso voltava.  Pensei que um dia você tivesse juízo e que os empréstimos terminassem...

Parece que você não tem jeito mesmo... Outro rolo? Amanhã envio um advogado para Itaboraí. Você se resolve com ele. Essa é a minha ajuda. O meu amor continua o mesmo, sempre a espera de uma boa notícia, de uma esperança. Mas até meu amor amadureceu. Não cede mais a seu sorriso...

Estou mesmo abismada. Dessa vez, você se excedeu... Como você tem coragem de pedir emprestada a única coisa que me protegeu nesses anos todos? Que me protegeu dos males de meu incondicional amor por você... Que esteve sempre a meu lado... Que me falou sobre sua falta de limites. Que me faz caminhar pela vida.  NÃO, meu filho querido. Sou cega por você. Mas há coisas que NÃO se emprestam. Não vou emprestar o meu anjo da guarda. O que aconteceu com o seu?  Ele se cansou de você pela eternidade... E eu e meu anjo da guarda também cansamos. Eu não abandono você. Mas ele, meu anjo, sempre me alertou... Amar você tanto foi minha escolha.  Não foi a dele...

 Clicia

Um comentário:

  1. Duvi-dê-ó-dó !... Mãe empresta até anjo da guarda! Empresta, não. Transfere!
    A crônica é excelente. Faz a gente ir ficando com raiva do cafetão e no fim descobre que o explorador (?) é o filho!
    O meu filho me diz que relação de mãe e filho não é igualitária. E a minha filha me diz que: a filha pode e deve ter as chaves da casa da mãe, mas a mãe não deve ter as chaves da casa da filha!
    Haja leite!...

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