Ponto de Vista

Aqui do calçadão da Praia do Leblon, sentado na minha cadeira e cercado de assistentes e equipamentos, eu observo as pessoas. Preciso escolher uma delas. De preferência uma figura pitoresca. A praia está lotada. Exatamente como eu imaginei. Só para imprimir mais realidade à cena. Um vendedor de mate que caminha pela areia, sob o sol escaldante, parece falar consigo mesmo e chama a minha atenção. Muito mais por causa de sua concentração naquele diálogo silencioso. Observando com mais atenção, percebo que o mulato é bonito e musculoso. O rapaz sua tanto carregando aqueles dois tambores de metal, um em cada ombro, que nem percebe o que está acontecendo ao seu redor. De repente, ele para. O seu olhar voltado para o mar, de onde sai uma mulher deslumbrante, vestindo um biquíni provocante. O acaso nos oferece o timing perfeito e eu aproveito. Todos a postos. Seguindo as minhas instruções, ela fixa o seu olhar no do vendedor de mate, sorri de forma convidativa e, com um andar sensual quase felino, segue em direção à sua barraca. O rapaz, induzido por aquela profissional experiente, muda o seu trajeto para segui-la. Aí, ele avista um estrangeiro com pinta e pose de galã. O vendedor, então, em um inglês rudimentar, cumprimenta o estrangeiro e, gesticulando bastante, oferece a ele um copo de mate. Rapidamente, instruo o estrangeiro a pedir dois copos, apontando para a sua namorada que está chegando. O rapaz vira a cabeça e diz: “Sua namorada? Véri biutiful!”. Aqui do calçadão, informo aos dois para prolongarem a conversa com o vendedor, falando sobre a praia e o calor, usando algumas palavras em português no meio das frases curtas em inglês e muitos gestos; tudo, enfim, para facilitar a compreensão pelo rapaz. Rapidamente, dou o sinal e os vinte membros de uma quadrilha internacional de tráfico de crianças entram no quadro, já atirando. Os figurantes já sabem o que fazer. O estrangeiro, um profissional também experiente, atuando pela terceira vez como o famoso agente 007, antes de partir para uma luta corpo a corpo, saca as armas escondidas na sua barraca. Assumo o lugar de um dos cameramen e filmo a cena de um ângulo inusitado – o seu reflexo nos tambores de metal do vendedor de mate, que, de tão apavorado com o tiroteio, sai correndo sem receber o seu cachê.

       Maria Paula

Nenhum comentário:

Postar um comentário