Quem frequenta Ipanema, ou lê as crônicas ou a coluna do Joaquim Ferreira dos Santos, mais do que conhece a Mulher de Branco de Ipanema. Ex-mulher de Marcos Valle, que perambula pelas ruas e praia do bairro que lhe dá nome, em altos papos (e às vezes seriíssimas discussões consigo mesma), em trajes esvoaçantes ou biquínis bem pequenos, sempre da mais alva cor.
Algumas novidades, no caso, podem ser notadas no caso da famosa senhora. Além de ter se mudado da esquina da Barão de Jaguaripe com Vinícius de Moraes, a Mulher de Branco não se veste mais de branco, e sim em várias cores e tons que a deixaram (e nossas vidas) um pouco menos coloridas. Será o luto pela mudança? Sabe-se lá.
Mas o que me faz trazer essa personagem real para esse texto foi cena que presenciei há pouco, protagonizada por ela mesma, a (ex) Mulher de Branco. Ela atualmente passa sua aérea vida nas cercanias do Bar Rex. Estava eu caminhando pela Vinícius rumo à praia em uma manhã de sábado, quando de longe já a vejo sentada em um desses bancos altos que estão na moda nos bares cariocas. Mas, reparo, há algo de novo: ela está tagarelando (como sempre), mas agora ao celular! Quando vou chegando mais perto, percebo que não há celular em sua mão. Ela está falando sozinha, como de costume, mas como se segurasse um celular em sua mão, que está, no entanto, vazia.
Parei para pensar: deve ser uma estratégia da pessoa para que não pareça louca, pois poderá falar à vontade, como é de sua personalidade, sem precisar de interlocutor, e ninguém a olhará como uma extraterrena. Afinal, todos falamos ao celular nas ruas e locais públicos. Achei por demais sagaz a estratégia de nossa simpática heroína.
Um par de dias depois sento-me em outro bar, e vejo três pessoas sentadas em uma mesma mesa. Mas nenhuma pessoa ali conversava com as demais: as três falavam ao telefone, com desenvoltura e entusiasmo, como se as outras presentes não estivessem ali.
A cena me levou à seguinte reflexão: nosso mundo, repleto de tecnologia para unir as pessoas, como redes de relacionamento, celulares, emails, pode nos estar afastando das relações face-a-face e, com isso, nos distanciando das outras pessoas (pelo menos gente de verdade). Estamos em nossos orkuts e facebooks da vida escolhendo a nossa melhor foto, selecionando (ou criando) nossos melhores momentos (sorrisos mil em rostos embranquecidos pelos flashes das câmeras), externando ao léu nossos pensamentos, angústias, sensações, acontecimentos. Sem falar no twitter, em que nossas pensatas e considerações são lançadas ao ar, captadas por "seguidores" que talvez não conhecemos, ou, às vezes, até por ninguém. Ao celular, falamos com pessoas que geralmente poderiam estar ao nosso lado, situação que nos permitiria ver suas reações, tocá-las, quem sabe, e com certeza poderíamos senti-las melhor. Mascarar sentimentos e percepções é muito mais difícil quando estamos presentes. No mundo virtual, ser uma pessoa não-real é tarefa simples.
Lembrei-me, então, da (ex) Mulher de Branco de Ipanema. Mudei de ideia quanto minha percepção inicial: de repente ela adotou essa nova estratagema não para não parecer que não esteja falando sozinha. Talvez esteja somente se atualizando, apenas repetindo a forma como as pessoas hoje andam falando sozinhas. Bem capaz que ela já esteja no twitter.
Rodrigo
quando eu estive aí,na ultima vez,notei q ela nao estava mais usando so branco,mas achei q poderia ser 1 momento atipico. Confesso q saber q ela ja não é a mesma me desestabiliza um pouco, me da 1 ideia de q as coisas já não são as mesmas...Talvez eu tenha um pouco de resistencia a mudancas.
ResponderExcluirE vc?Tem twitter?
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