O Inquisidor

Era de um brilho mordaz. Uma única lâmpada pendente, delineando sombras e temores, realçava a frieza do inquisidor.

“- Como é...? Ainda nega que seja você?” – pergunta incisivo, me fitando sobre os óculos.

Atônito e desconcertado tento desfazer o mal entendido. Apesar das evidências, deveria haver algum engano, mas com espanto noto as volumosas pastas de um processo. ...processo do qual jamais ouvira falar, não pude ter acesso e tampouco conhecer o conteúdo. Um desespero.

Num oceano de incertezas eu naufragara em indagações e, com profundo desconforto, sentia o acusador me observando em minúcias. Dava a impressão de não ter nenhuma pressa – do tempo haver parado dilatando cada segundo de minha angustia e aflição.

“- E aí sabidão? Insiste em negar?” – perguntou uma vez mais.

“- Veja bem... só desejo saber do que se trata...” – balbuciei quase em súplicas reafirmando desconhecer por completo o estranho acusado. O inquisidor usava um sorriso de ironia deixando evidente não acreditar em uma só palavra. Desejava respostas, definições... uma confissão talvez, embora eu não tivesse nada a oferecer.

    O cenário sem nuances nem alternativas permanecia estático. Com suor frio nas mãos e alguns tiques nervosos, eu já começava a sucumbir no momento em que o inquisidor esboçou leve movimento para pegar um volume do processo. Tive a esperança que contaria algo ou quem sabe...?, revelaria a verdade subjacente, quando no instante seguinte – como num passe de mágica – todo entorno desvanece lentamente............. bem lentamente.

ACORDO DE SÚBITO!!! Sobressaltado... e ainda vivenciando o pesadelo acendo um cigarro em busca de um motivo. Então... com vagar, entre uma e outra baforada, o despertar me induz a uma questão: Afinal... quem seria o estranho?

 ...o estranho ser albergado em secretos no íntimo do meu eu.

Richard 

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